Este título é o mesmo de um artigo escrito pela Gisela B.
Taschner, Professora Titular do Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos
da Administração da EAESP/FGV. Vou falar sobre o artigo dela hoje, porque achei
o tema muito interessante e condizente com a pesquisa de campo que realizamos
no Center Shopping esta semana (falaremos disso ainda hoje!).
Bom, basicamente o artigo fala sobre os elos entre estas
variáveis, e como alguns são perceptíveis e outros, nem tanto. Um exemplo
citado por ela é ir ao shopping em domingos ou feriados, já que o lazer hoje é
totalmente mercantilista, inclusive, falei sobre isso aqui no blog há um tempo
atrás.
Sobre lazer e consumo, a autora faz referência a Veblen, um
dos pioneiros na área. Ele associou o lazer à classe ociosa (aquela que se
dedicava a empregos não rotineiros que envolviam atos de coragem) associando o consumo
conspícuo ao advento desta classe. Esse consumo era um meio de exibição de
status social da classe, baseando-se no princípio de que a riqueza confere
honra. Isso deu lugar a uma corrida sem fim das pessoas para atingir um certo
padrão para se situarem cada vez mais alto que os competidores por reputação.
Nota-se então o primeiro elo entre
consumo e classe ociosa, que não está ligado ao lazer, tal como é entendido no
sentido contemporâneo.
Essa visão de Veblen bate com a de Nobert Elias, que
analisou a vida da Corte Real na França.
Para Elias, o prestígio de uma pessoa não adivinha de seu consumo conspícuo,
mas sim de sua participação na corte Real, no entanto, para participar da Corte
era necessário ter uma grande riqueza. Em outras palavras, este tipo de consumo
estava mais ligado à política do que a lógica burguesa de consumo, pois eles
precisavam mostrar à população todo seu poder. Era então um consumo de
prestígio e não discricionário como poderia parecer e não tinha nada a ver com
lazer ou diversão.
A autora também analisa a Corte Britânica, onde surgiu um
novo padrão: o da pátina. Pátina é o brilho acetinado que surge nos objetos de
metal e de madeira após muitos anos de manuseio. Uma família que possui muitos
objetos com pátina era uma família poderosa, pois sugeria que os ancestrais
tinham riqueza e poder. Assim os nobres começaram a gastar mais com si mesmos
em banquetes e em outras casas da família. Pode-se se observar então algo em
comum entre as Cortes Francesa e Britânica: ambas foram berços de novos padrões
de consumo, baseado na renovação constante de seus itens de consumo.
E a partir do século XIX, o novo padrão difundiu-se para
outros segmentos sociais, primeiro, os estratos médios e, depois, as chamadas
classes populares. Eis que surgem então as lojas de departamento, primeiramente
na Europa e atravessando o Oceano no início do século XX, chegando ao Rio de
Janeiro e São Paulo. E elas tornaram muito agradável e divertida a experiência
de olhar vitrines, andar nas lojas e fazer compras, pois as pessoas não
precisavam mais perguntar o preço, se sentirem forçadas a comprar e podiam
muito bem entrar na loja e sair sem comprar nada. Foi aí então que surgiu um
elo entre lazer e consumo.
Mas na verdade, o lazer se tornou um consumo depois que
adquiriu uma lógica mercantil. Automóveis, cinemas, parques temáticos, etc.
Assim surgiu uma cultura de consumo em massa, atingindo primeiro o Primeiro
Mundo e depois outros países. Assim a autora chegou à alguns pontos:
1 .“Os laços entre lazer e consumo tendem a manter-se e a estreitar-se
em algumas áreas e para algumas pessoas. Seu casamento tende a ser duradouro
desde que se ajuste a algumas tendências da sociedade e do mercado.”
2. “O advento da
Internet muda a estrutura do lazer da área relacionada ao consumo de produtos
culturais.”
3. “A cultura do consumo tem um espectro mais amplo que o
acesso afetivo a itens de consumo ou de lazer pela população.”
O artigo é bem legal e foi publicado na Revista Administração
de Empresas, em Out./Dez. 2000, v.40 n. 4 p. 38-47. Apesar de fazer um bom
tempo de sua publicação o tema ainda está em pauta para ser discutido. Achei
interessante a autora examinar o consumo desde da era do Feudalismo até os dias
atuais, bom saber como chegamos até aqui, não é?
Não encontrei os direitos autorais da imagem.
Postado por Amanda Lima.