domingo, 2 de fevereiro de 2014

Lazer, Cultura e Consumo

Este título é o mesmo de um artigo escrito pela Gisela B. Taschner, Professora Titular do Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos da Administração da EAESP/FGV. Vou falar sobre o artigo dela hoje, porque achei o tema muito interessante e condizente com a pesquisa de campo que realizamos no Center Shopping esta semana (falaremos disso ainda hoje!).
Bom, basicamente o artigo fala sobre os elos entre estas variáveis, e como alguns são perceptíveis e outros, nem tanto. Um exemplo citado por ela é ir ao shopping em domingos ou feriados, já que o lazer hoje é totalmente mercantilista, inclusive, falei sobre isso aqui no blog há um tempo atrás.
Sobre lazer e consumo, a autora faz referência a Veblen, um dos pioneiros na área. Ele associou o lazer à classe ociosa (aquela que se dedicava a empregos não rotineiros que envolviam atos de coragem) associando o consumo conspícuo ao advento desta classe. Esse consumo era um meio de exibição de status social da classe, baseando-se no princípio de que a riqueza confere honra. Isso deu lugar a uma corrida sem fim das pessoas para atingir um certo padrão para se situarem cada vez mais alto que os competidores por reputação. Nota-se então  o primeiro elo entre consumo e classe ociosa, que não está ligado ao lazer, tal como é entendido no sentido contemporâneo.
Essa visão de Veblen bate com a de Nobert Elias, que analisou a vida da Corte Real  na França. Para Elias, o prestígio de uma pessoa não adivinha de seu consumo conspícuo, mas sim de sua participação na corte Real, no entanto, para participar da Corte era necessário ter uma grande riqueza. Em outras palavras, este tipo de consumo estava mais ligado à política do que a lógica burguesa de consumo, pois eles precisavam mostrar à população todo seu poder. Era então um consumo de prestígio e não discricionário como poderia parecer e não tinha nada a ver com lazer ou diversão.
A autora também analisa a Corte Britânica, onde surgiu um novo padrão: o da pátina. Pátina é o brilho acetinado que surge nos objetos de metal e de madeira após muitos anos de manuseio. Uma família que possui muitos objetos com pátina era uma família poderosa, pois sugeria que os ancestrais tinham riqueza e poder. Assim os nobres começaram a gastar mais com si mesmos em banquetes e em outras casas da família. Pode-se se observar então algo em comum entre as Cortes Francesa e Britânica: ambas foram berços de novos padrões de consumo, baseado na renovação constante de seus itens de consumo.
E a partir do século XIX, o novo padrão difundiu-se para outros segmentos sociais, primeiro, os estratos médios e, depois, as chamadas classes populares. Eis que surgem então as lojas de departamento, primeiramente na Europa e atravessando o Oceano no início do século XX, chegando ao Rio de Janeiro e São Paulo. E elas tornaram muito agradável e divertida a experiência de olhar vitrines, andar nas lojas e fazer compras, pois as pessoas não precisavam mais perguntar o preço, se sentirem forçadas a comprar e podiam muito bem entrar na loja e sair sem comprar nada. Foi aí então que surgiu um elo entre lazer e consumo.
Mas na verdade, o lazer se tornou um consumo depois que adquiriu uma lógica mercantil. Automóveis, cinemas, parques temáticos, etc. Assim surgiu uma cultura de consumo em massa, atingindo primeiro o Primeiro Mundo e depois outros países. Assim a autora chegou à alguns pontos:
1 .“Os laços entre lazer e consumo tendem a manter-se e a estreitar-se em algumas áreas e para algumas pessoas. Seu casamento tende a ser duradouro desde que se ajuste a algumas tendências da sociedade e do mercado.”
 2. “O advento da Internet muda a estrutura do lazer da área relacionada ao consumo de produtos culturais.”
3. “A cultura do consumo tem um espectro mais amplo que o acesso afetivo a itens de consumo ou de lazer pela população.”

O artigo é bem legal e foi publicado na Revista Administração de Empresas, em Out./Dez. 2000, v.40 n. 4 p. 38-47. Apesar de fazer um bom tempo de sua publicação o tema ainda está em pauta para ser discutido. Achei interessante a autora examinar o consumo desde da era do Feudalismo até os dias atuais, bom saber como chegamos até aqui, não é?

 O artigo completo vocês encontram aqui: Lazer, Cultura e Consumo

Não encontrei os direitos autorais da imagem.

Postado por Amanda Lima.

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